
Automobilista de férias percorre as montanhas do centro da França, entediado longe da cidade e da vida noturna. Garota lhe faz o gesto usual de pedir carona, timidamente pergunta se direção a Beaune ou Tournus. Na estrada umas palavras, belo perfil moreno que poucas vezes pleno rosto, laconicamente às perguntas de quem agora, olhando as coxas nuas contra o assento vermelho. Depois de uma curva o carro sai da estrada e se perde no mais espesso. De esguelha sentindo como cruza as mãos sobre a minissaia enquanto o terror pouco a pouco. Sob as árvores uma profunda caverna vegetal onde vai poder, salta do carro, a outra porta e brutalmente pelos ombros. A garota o olha como se não, deixa-se tirar do carro sabendo que na solidão do bosque. Quando a mão pela cintura para arrastá-la entre as árvores, pistola da bolsa e na têmpora. Depois carteira, verifica bem cheia, de quebra rouba o carro que abandonará alguns quilômetros adiante sem deixar nenhuma impressão digital porque nesse ofício não se pode descuidar.
CORTÁZAR, Julio. Último Round. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2008.
2 Comentaram. Deixe seu comentário também!:
Isso é um classico! O cara se sente tão potente e seguro na sua situação de macho alfa, que diante duma armadilha, é alegremente pescado com o anzol enterrado fundo na curva de um largo sorriso.
_________________
Acabei de ler seu artigo sobre Literatura Infantil e achei ótimo. Realmente ao tentar escrever para crianças, alguns autores subestimam a mente crítica, curiosa e criativa que a maioria delas tem.
Surpreendente. A moça, tão frágil, acaba se aproveitando da sua condição insuspeita. Tenho muita vontade de ler Cortázar. Dizem que é muito bom.
Postar um comentário
Olá, obrigada por visitar meu blog. Sua contribuição é muito importante para mim!