Um homem catava pregos no chão.
Sempre os encontrava deitados de comprido, ou de lado, ou de joelhos no chão.
Nunca de ponta.
Assim eles não furam mais - o homem pensava.
Eles não exercem mais a função de pregar.
São patrimônios inúteis da humanidade.
Ganharam o privilégio do abandono.
O homem passava o dia inteiro nessa função de catar pregos enferrujados.
Acho que essa tarefa lhe dava algum estado.
Estado de pessoas que se enfeitam a trapos.
Catar coisas inúteis garante a soberania do Ser.
Garante a soberania de Ser mais do que Ter.
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Confesso que gosto da ideia do desprendimento, da abnegação e me entristeço muito quando percebo que há sobre nós seres urbanos, um peso social nos forçando a viver o contrário.
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