Imagem: Bianca Bloom. Integra a obra A Clarideia de Percival de Carolina Bernardes |
Está chovendo em minha cidade há mais de vinte dias. As pessoas já se cansaram. A roupa no varal não seca, a casa cheira a tudo menos coisa boa, as mesas na calçada dos bares sem nenhuma alegria.
Mas hoje, estou amando esse dia nublado, que molha minha janela, lava meu quintal e clarifica minha alma. Uma passagem de meu livro FLAUIS é reveladora deste significado:
“A chuva faladeira contava histórias dos mares e das terras distantes, onde os povos falam outras línguas. Cantarolava as músicas dos amores e das alegrias de outros mundos que ela conhecia.”
Outra passagem sobre a chuva, em meu livro A CLARIDEIA DE PERCIVAL:
“E a chuva começou a gotejar. Pingo atrás de pingo, a Terra foi se molhando. Os pensamentos todos voaram e foram lavados pela chuva, só a alegria permaneceu, pois no ciclo da natureza, este era o momento da renovação, em que a terra se fortifica para brotar novamente.
Completamente molhadas e felizes, as crianças não agüentaram ficar paradas, queriam brincar, correr, se lambuzar na terra e dançar com a chuva da esperança. Abraçaram-se, correram, riram, pularam nas poças formadas na grama, subiram nas árvores, sacudiram galhos para molhar ainda mais o companheiro, ouviram o som do trovão sem medo.”
É com esta mesma alegria que sinto a chuva hoje. Enquanto olho para meu espaço interno, aquele onde todas as coisas são reais, sem velhos hábitos e padrões. Estou nascendo de novo. E esta chuva é a minha festa de aniversário.
Não espero que me enviem presentes. Que me cumprimentem. Que me procurem para dizer que sou querida. Estou aqui, eu vim, eu quero.
Quero estar exatamente onde estou, com minhas idéias, meus animais aninhados em minha cama, enquanto redijo palimpsestos e caligramas pelo meu corpo. Quero estar com os ouvidos atentos ao invisível, o olhar perspicaz ao que não sou. Quero apreciar a flor de lótus que emerge de um caos profundo, enquanto danço. Simplesmente danço e agradeço por gostar de estar aqui, neste pequenino espaço, com janelas molhadas, frases inacabadas e a memória de inscrições antigas que se perderam... fragmentos valiosos de quase-nada. Seja bem-vindo à minha festa. Não ofereço bolo, doces e música alta.
Ofereço apenas a CLARIDEIA.
“Olhe para a vida: você vê tristeza em alguma parte? Você já viu uma árvore deprimida? Você já encontrou um pássaro movido por ansiedade? Já viu algum animal neurótico? Não, a vida não é assim, absolutamente.”
“A inocência de uma vida plenamente vivida tem um quê da sabedoria e da aceitação do milagre da vida em eterna mudança”.
OSHO
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OLÁ CAROL,
seu blog é um dos melhores que tenho visitado até hoje.
Sem demagogia!
Um imenso abraço carioca e fique com Deus.
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