Não pude participar plenamente da Feira do Livro, comparecer ao Salão de Ideias dos companheiros de escrita local, pois acabo de chegar da Paraíba. Coincidentemente, aconteceu nesta semana em João Pessoa uma semana cultural e literária, em homenagem aos 110 anos de nascimento do escritor José Lins do Rego. Fui convidada exatamente para dar uma oficina para escritores, para pensar a escrita, oferecendo aos alunos presentes recursos de aperfeiçoamento de seu trabalho. Foi uma viagem emocionante – visitação ao engenho em que o autor viveu e o espaço que inspirou suas obras.
Um autor falar de si próprio é um problema, pois o autor escreve e é o leitor quem faz o papel de pensar a obra desse autor. Acho, portanto, que seria mais interessante aproveitar que não sou apenas autora, mas também alguém que estuda literatura e relacionar algumas idéias sobre a criação literária com traços da minha trajetória.
Um autor falar de si próprio é um problema, pois o autor escreve e é o leitor quem faz o papel de pensar a obra desse autor. Acho, portanto, que seria mais interessante aproveitar que não sou apenas autora, mas também alguém que estuda literatura e relacionar algumas idéias sobre a criação literária com traços da minha trajetória.
1. A trajetória de todo autor recebe influências de diversos contextos. Não se pode dizer que o autor fulano de tal teve influência de dois ou três autores. Pois somos formados por uma quantidade muito ampla de vozes, desde a infância. Diversas pessoas passam pela nossa vida – seja maneira real, seja por intermédio de leituras e, ainda, indiretamente, através dos discursos que circulam na sociedade. Octávio Paz: “Nossa voz são muitas vozes. Nossas vozes são uma só voz”
2. Associado a isso, gostaria de afirmar que gostar de escrever é pouco. Saber escrever é pouco. Um escritor necessita de desenvolvimento. Isso pode vir através de estudos, mas principalmente da prática. Escrever, escrever, escrever.
A partir dessas duas considerações, poderia falar de minha trajetória.
Meus três livros são resultado da ânsia de ser publicada, de surgir como autora, já que esta foi a única coisa que realmente planejei para mim. São, portanto, livros esperançosos, tímidos, que buscam algum espaço no mundo das letras e dos leitores. Livros sem editora ainda. Mas o problema aí não está somente no fato de não ter ainda uma editora.
É preciso dizer que um autor nunca está pronto, não nasce marcado pelo dom e a partir dele terá condições de produzir com qualidade inalterável. Todo autor está em processo contínuo de auto-questionamento, desafiando sua própria obra e a sua maneira de escrever.
Portanto, por mais que eu ame os meus primeiros livros, por mais que sejam o retrato de minha luta, de minha superação das dificuldades, ainda assim, sei que estou em processo de aprendizagem da escrita.
Demorei para entender que o autor não nasce com um dom. Tive muitas falhas e percalços no caminho. Acreditava que o texto se faria naturalmente. Foram textos frustrados, imaturos.
Nessa trajetória de aprendizado, é evidente que descobri e melhorei muito com a infinidade de vozes que nos acompanha. Mas gostaria aqui de marcar duas importantes vozes:
Nikos Kazantzakis – o autor estudado no mestrado e doutorado, que me ensinou algumas coisas que eu já estava preparada para aprender: Muito pertinente mencionar nesta feira, que homenageia a Grécia. Sim, eu sou pesquisadora e estudiosa de um autor da Grécia moderna.
1. A superação contínua e ininterrupta – nunca almejar o fim, o ponto de chegada. Mas aceitar heroicamente meus defeitos, falhas, fragilidades e continuar em transformação. Sabendo que haverá muitos tombos, mas que é preciso sempre continuar. Isso eu carrego intimamente comigo, tanto como tema de escrita e na linguagem, como em minha vida. Procuro ser aquela ao identificar uma falha, uma fraqueza, me coloco a pensar como posso ser melhor.
2. A inexistência de um gênero literário puro – interação entre os discursos. Abertura que pretendo explorar mais profundamente em próximos textos.
Mas tenho aprendido especialmente com uma pessoa que acompanha de perto o meu trabalho. Talvez sem ele eu não tivesse chegado ao ponto em que estou hoje.
Não é um escritor ou um teórico da Literatura – mas bem poderia ser ambas as coisas. É um professor de Literatura. Com ele tenho longas conversas sobre Literatura e tenho a grande oportunidade de ser verdadeiramente lida. O meu professor de Escrita Criativa tem me ajudado a me tornar a autora que sou hoje e que ainda serei.
Permanece até hoje lapidando meu trabalho: me incentiva a exercícios de despersonalização, de experimentação da linguagem, de descoberta da simplicidade. Elementos que eu me atentava antes.
Toda a minha trajetória intelectual tem a voz de Rodrigo e de Kazantzakis, que são as mais próximas.
Aproveito para agradecer aos colegas escritores, que participaram do mesmo Salão de Ideias: Albino Bonomi e Dênis Bó. A maravilhosa mediação da amiga Eliane Ratier. E ao preciosíssimo empenho e organização do autor e médico Nelson Jacintho.
Para quem não teve oportunidade de comparecer, segue abaixo o vídeo com minha apresentação (parcial):
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Lê Granville disse...
Amiga querida, saiba que eu me emocionei com sua participação e ainda fiquei com uma pontinha de remorso por não ter ido. Mas o que importa é que vc conseguiu realizar o seu sonho e, como vc mesma diz, ainda está em processo, veja que delícia então: um sonho contínuo!...Eu tive a oportunidade de acompanhar o começo da sua trajetória, época em que esse sonho era ainda "um sonho só". E hoje ele se tornou realidade. Que maravilha!!! E, é importante lembrar, vc linda, como sempre foi, por dentro e por fora. Adoro vc! Super Beijo, Lê
Lindo post! Beijos e sucesso. Rubão.
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