Imagem: Carolina Bernardes |
Atrás do móvel grande, a televisão esconde. Toca perfeita. Infinito labirinto de desova oca. Folha seca, graveto ligeiro. Etiqueta. Laço, fita. Espuma, papel, pena. Não foi o rato: Ágape roeu o livro. Edifício engenhoso, casa de barro do joão, teia trançada, formigueiro de abelha. Espuma, papel, fita, graveto no bico ligeiro. Passa correndo, sem asas, e escapa. Tijolo de mato sobre cimento de pena, rede lançada do pescador. Entrança a fita no mato, cisco de folha atado à pena ao vento. Primeira jornada, segunda jornada, terceira... incansável bico artífice entalha a caverna estéril. Os ovos se multiplicam e o móvel grande esconde a trapizonga. O rato não roeu o livro, o gato não comeu o pássaro: foi a preta peluda que, num lance certeiro, ágil como Ágape, tragou a fidelidade. Só o ninho, só as penas.
Imagem: Carolina Bernardes |
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Essa estória poderia ter sido contada de várias maneiras, acho que escolheu a que costumo curtir bastante, ocultando o óbvio e dando à minha curiosidade a oportunidade de ler mais de uma vez para tentar entender. Minha mente nem sempre é tão ágil e certeira como a preta peluda, mas ela também gosta de fuxicar os cantos atrás de coisas, vasculhar gavetas!
Outra coisa que gostei é que você, talvez pra evitar a prosa prolixa, foi quebrando utilitariamente as sentenças em pedacinhos, picando tudo e condensando, não pra que coubesse atrás dum móvel grande, mas no espaço diagramado do blog.
Simplesmente duka!
Belíssimo texto! Você conseguiu fazer de uma história, aparentemente tão simples, emergir no poético. Conseguiu fazer emergir o milagre que é o nascimento de uma nova vida.
Parabéns!
Abraços!
Gil, picar as sentenças em pedacinhos corresponde à própria ação de Ágape. Uma tentativa de fundir conteúdo e forma.
Continue a fuxicar os cantos de meus textos.
Beijos
Roseane, obrigada pelo comentário. Infelizmente, essa vida que nasceu pela palavra foi apenas a impotente tentativa de fazer viver algo que já morreu. Abraços
Lindo poema Carol, ótima foto! Me encantou! Fico boba com o talento de minha prima viu!!!Ainda mais de suas pequeninas, peixinhos crescendo igual a mãe. Parabéns, querida! beijinhos
saudades
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